ALEXANDRE

Vou falar de uma personagem que me fascina desde que a conheci. Aos 16 anos

comandou o primeiro exército aos 18 era general, aos 21 Rei e aos 30 tinha aos seus pés

o maior império da antiguidade. Auto-intitulou-se Deus, o que só um génio ou um louco

ousaria. Alexandre era ambos.



É impossível não cair no feitiço deste jovem macedónico de uma inteligência

brilhante, coragem sem limites e determinação avassaladora. Mas o meu fascínio por

este homem não reside só nestes atributos mas na invulgar combinação com outros,

tanto ou mais importantes, como o seu apurado sentido de justiça, uma inquebrável

conduta de honra e uma profunda lealdade e respeito para com os seus súbditos.

Acredito que a matéria-prima de que são feitos os heróis é 90 % imaginação e

10% de realidade. Mas não é menos verdade estas personagens míticas são necessárias.

Elas servem-nos de catarse aos nossos desejos de absoluto, de perfeito, algo que, pela

sua força, beleza, inteligência ou audácia, transcenda as limitações humanas e ascenda

ao divino. Alexandre é uma dessas personagens.



A personalidade de Alexandre tem algo de metafísico que escapa a qualquer

registo biográfico e ilude a materialização numa imagem, numa frase ou num tratado.

Filho de uma mulher sedenta de poder e um soberano austero, Alexandre cedo se

mostrou um líder natural. Do seu corpo escultural radiava uma beleza invulgar onde se

encaixava um olhar magnético, daqueles que ordena e seduz sem que os lábios se

movam. Aristóteles, o maior pensador da época, conseguiu apurar a sua inteligência

superior mas foi incapaz de lhe domar a impetuosidade e rebeldia que ele iria manter

durante a sua curta vida.

Por tudo isto, Alexandre parecia ter sido talhado para vencer todos os que

tivessem a insensatez de se lhe opor. Até mesmo a morte. Um oráculo revelou-lhe que

seu pai era o próprio Zeus e não Filipe da Macedónia. Alexandre, profundamente

místico e de uma auto-estima quase insane, não só não duvidou como passou a agir

como se essa fosse a maior verdade que lhe tinha sido anunciada.



Foi um soberano invulgar difícil de descrever e impossível de perceber. Ao

contrário de muitos reis, Alexandre não lutava só pelo poder. Mais que um estratega,

nas batalhas Alexandre jogava sobretudo com a psicologia do inimigo tirando máximo

partido das suas fraquezas, medos ou hesitações. "Não temo um exército de leões se for

comandado por uma ovelha. Temo sim um exército de ovelhas comandadas por um

leão", terá dito. Foi o que aconteceu na brilhante batalha de Gaugamela onde

Alexandre, conhecedor da cobardia do adversário, o rei persa Dario, o derrotou mesmo

dispondo de uma força militar 5x inferior.


As riquezas e o poder que conquistou eram tamanhos que podiam satisfazer o

soberano mais ganancioso. Mas Alexandre não era um soberano qualquer. O único

trono que conhecia era a sela do seu cavalo, Bucefalos. Alexandre não tinha sido

talhado para ser um administrador. Ele era um conquistador.

Alexandre, o Grande, deixou um legado cultural significativo. Sua abertura para com as culturas locais nas regiões que conquistou é notável. Ele frequentemente adotava elementos das culturas de seus súditos, promovendo a integração cultural e a troca de conhecimento. Sua curiosidade insaciável o levou a explorar a fundo as tradições, línguas e filosofias das terras que governava. Essa atitude de respeito e aprendizado mútuo contribuiu para a disseminação da cultura helênica e o florescimento do helenismo, um período de intercâmbio cultural que moldou as civilizações do mundo antigo. Alexandre não era apenas um conquistador, mas também um admirador e apreciador das riquezas culturais das terras por onde passava.

Percorreu mais de 30 000 km pela Pérsia com o seu exército de 40 000 homens

durante mais de sete anos. Os seus generais diziam-lhe que regressasse pois a sua

missão estava cumprida. “A Macedonia está vingada, voltemos”, diziam-lhe. Mas Alexandre

não lhes dava ouvidos. Continuava sempre. O seu espírito irrequieto vagueava algures

pelos campos turbulentos e misteriosos do desconhecido e inexplorado. Pelos vales

férteis, pelas riquezas guardadas em cidades de muralhas inexpugnáveis, pelas

montanhas desertas, pelas estrelas que os seus olhos ainda não tinham visto o brilho.



Ele tinha apenas iniciado a sua missão.

Até hoje, ela ainda não terminou…




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