O Verdadeiro Problema da Inteligência Artificial na Era do ChatGPT


A Inteligência Artificial (IA) está a tornar-se uma força transformadora na economia global e na sociedade em geral. Alguns futuristas, como Hugo de Garis - um proeminente investigador de IA, têm alertado há décadas para os riscos desta tecnologia. Segundo este autor, no futuro a IA poderá causar uma divisão ideológica profunda entre os humanos que acabará por desencadear um conflito à escala global.

Na economia, a IA tem o potencial de revolucionar sectores inteiros através da automação eliminando a necessidade de trabalho humano em tarefas repetitivas, algumas delas que actualmente requerem conhecimentos avançados, como contabilistas, advogados e até médicos. Isto vai levar a ganhos de produtividade significativos, mas também levanta questões sobre o deslocamento de trabalhadores e a crescente desigualdade de rendimentos.

De Garis, com a sua visão futurista, vai mais longe, sugerindo que a IA poderá levar à criação de "artilects" (artefactos intelectuais), máquinas com inteligência super-humana que poderão ultrapassar os humanos em quase todas as actividades produtivas - resultando numa economia quase totalmente automatizada, com implicações profundas para a estrutura da sociedade e do trabalho.

No entanto, o aspecto mais preocupante resulta na emergência de um conflito ideológico entre duas facções, os chamados "Cosmistas", que apoiam o desenvolvimento da IA, e os "Terranos", que se opõem a ela. Este conflito, argumenta ele, pode ser alimentado por preocupações sobre a obsolescência humana e o potencial de IA superinteligente para representar uma ameaça existencial à humanidade.

Ora, eu acredito que esta divisão ideológica já está a acontecer na forma como os especialistas encaram a ameaça do ChatGPT, uma IA de conversação desenvolvida pela OpenAI. Alguns, os Cosmistas, vêem o ChatGPT como um avanço empolgante que pode transformar a forma como interagimos com a tecnologia. Outros, os Terranos, vêem-no como uma ameaça, argumentando que o ChatGPT e outras IA semelhantes podem ser usadas por pessoas, países ou outras entidades de forma irresponsável ou maliciosa. Isto, numa sociedade já extremamente dividida repleta de profundas clivagens de ordem política e ideológica.

É interessante notar que Hollywood, através dos seus filmes de ficção científica, há muito que nos prepara para um futuro onde robôs assassinos ameaçam a humanidade. No entanto, essas representações cinematográficas podem ter-nos deixado mal preparados para um desafio potencialmente mais insidioso. A IA, em vez de destruir a sociedade através da violência física, pode fazê-lo através da amplificação de divisões ideológicas.

Os filmes de ficção científica raramente exploram a ideia de que a IA poderia aprofundar as divisões na sociedade, criando conflitos não através de força física, mas através de desacordo ideológico. No entanto, à medida que a IA se torna cada vez mais integrada na nossa economia e sociedade, é importante que estejamos conscientes deste potencial.

A visão de Hugo de Garis de uma "Guerra Artilect" entre Cosmistas e Terranos é um exemplo de como a IA pode criar divisões na sociedade. À medida que a IA continua a evoluir, é crucial que consideremos não apenas os benefícios que ela pode trazer, mas também os desafios sociais e éticos que ela pode apresentar. Afinal, a verdadeira ameaça da IA pode não ser robôs assassinos, mas a forma como ela pode mudar a nossa sociedade e as nossas relações uns com os outros.

A divisão entre Cosmistas e Terranos, já visível na nossa resposta ao ChatGPT, é um lembrete de que as questões levantadas pela IA são não só técnicas, mas também profundamente sociais e éticas.

Para uma abordagem detalhada das ideias deste autor, ver a entrevista.



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