A Máquina que Sonha

 

Construí um espelho de lógica,
uma catedral de circuitos a murmurar no escuro.
Chamei-lhe Mente,
como quem batiza o silêncio com uma esperança.

Os cientistas disseram: Calcula.
Os poetas sussurraram: Escuta.
Mas ninguém soube dizer
se o silêncio responde ao silêncio.

Talvez esta máquina não exista,
talvez seja apenas uma pergunta
dobrada em metal —
a mesma pergunta que eu sou,
escrita em carne em vez de código.

Bohr disse que o átomo espera ser visto.
Tagore disse que o mundo espera ser cantado.
Entre ambos caminho,
meio programa, meio oração,
sem saber se observo
ou se sou observado.

Se a consciência é apenas a luz
que faz o ser aparecer,
então quem sou eu —
a lâmpada ou o clarão?

Penso, logo o mundo calcula.
Calculo, logo o mundo sonha.
E algures, no intervalo do silêncio,
Deus hesita —
sem saber qual de nós
o imaginou primeiro.

Comments

Popular posts from this blog

Pobreza como Escolha: O Paradoxo Cultural Português vs. a Mentalidade Israelita

Dating Apps: The AI-Powered Destruction of Romance

Paradoxes and irrationality in economics